Dia de finados… Geralmente me lembra de momentos que me fazem rir, em especial, quando recordo do enterro do meu pai. Melhor dizendo, eu nem vi o enterro, pois eu mim perdi e terminei enterrando uma pessoa que nem conhecia. rs
A história (verídica) é mais ou menos assim:
Estava eu em um dia daqueles de final de semana, interagindo com meu pai. Ele estava bebendo uísque e eu um refrigerante enquanto conversávamos sobre diversas coisas e nos divertíamos. Dentre as muitas conversas em que tivemos, lembro-me muito bem, quando ele se mostrou muito feliz por estarmos vivendo aquele dia mágico, e não tínhamos nem ideia de que aquele seria um dos nossos últimos momentos juntos, fisicamente. Ele me disse que, quando ele morresse não gostaria que eu assistisse ao enterro dele para que eu ficasse apenas com as imagens boas, não as tristes, dos momento em que tivemos juntos. Não gostei muito daquela conversa, em pensar que ele fosse morrer um dia, e terminei pedindo que mudasse o assunto, pois, não estava me agradando. E assim ele fez voltando a sorrir e brincando comigo, como nós sempre gostávamos.
Depois de certo tempo, ele ainda novo, com menos de 50 anos, passou mal e foi direto para a UTI. Ao sair da UTI, foi para o quarto do hospital quando eu tive a chance de falar com ele pela última vez e, depois disso, faleceu. Golpe duro para a família, e minha mãe teve que continuar lutando para alimentar cinco filhos e que, graças a sua garra e força interior, conseguimos sobreviver uma das fases mais duras de nossas vidas.
No dia do enterro do meu pai estávamos na sala do velório, eu, meus irmãos, minha mãe e muitas outras pessoas. Sala cheia, muitas pessoas se despedindo do meu velho, eu ali ao lado sentado recebendo apoio dos amigos e vendo a minha família sofrendo por causa daquela partida tão repentina. Lembro-me do meu tio, no momento quando iriam fechar o caixão, ele veio até a mim e perguntou se eu não queria me despedir do meu pai. Eu disse que não precisava, pois, meu pai já não mais estava naquele corpo que seria enterrado. Baixei a cabeça e comecei a chorar um pouco, em silêncio, quando fecharam o caixão e começaram a levar para ser enterrado.
Lembro-me como se fosse hoje, muita gente no enterro, pois, além das pessoas do bairro em que morávamos, havia muita gente conhecida do trabalho dele e amigos de diversos lugares. Sala realmente cheia, e à medida que o caixão ia sendo levado, as pessoas foram acompanhando. Esperei um pouco até que a sala estava com menos gente e ai levantei-me e comecei a seguir aquela multidão.
Começamos a caminhar e, do lado de fora da sala, quando levantei a cabeça percebi o quanto de gente estava ali. Seguia tranquilamente, até que decidi acelerar um pouco os passos para ficar perto do caixão. Decidi carregar o caixão como forma de despedida do meu velho. Lembro que bati no ombro de um rapaz solicitando que ele permitisse que eu carregasse, ele olhou-me meio que estranhamente, mas, prontamente me concedeu e eu comecei a levar e seguir rumo ao local onde o corpo seria enterrado. Como a distância era um pouco longa, ficava eu, de vez em quando, olhando para os lados buscando saber onde estão os meus familiares e conhecidos, pois, em certo momento, pensava que talvez, devido a forte emoção de despedida, não estava reconhecendo ninguém ao meu lado. E sabia que, realmente, meu pai conhecia muita gente e havia muitos colegas do seu trabalho por ali. Então aceitei essa ideia e seguir em frente.
No momento em que chegamos ao local onde iria ser enterrado o corpo, me afastei um pouco, fiquei de frente, e busquei localizar minha mãe e meus irmãos… E nada. O pior é que comecei a achar que as pessoas estavam me olhando como alguém que era estranho naquele meio. Quando colocaram a lapide, adivinha… Não era o enterro do meu pai… Era o enterro de uma mulher (rsrsrsrsrsrsrs), que até hoje lembro o nome, mas, por respeito não revelarei aqui.
Ao perceber essa gafe, disfarcei e sair ligeirinho para localizar o enterro do meu pai, foi quando já vinha de longe minha mãe e meus irmãos, pois, o meu pai já havia sido enterrado. Minha mãe acelera o passo para se encontrar comigo e me pergunta onde eu estava, pois, ela não havia me visto, foi quando eu disse que terminei assistindo a um enterro errado. Na mesma hora, com rápido trocar de olhares, rimos juntos e ela lembrou-me que meu pai sempre dizia que não gostaria que eu assistisse ao seu enterro para que eu ficasse apenas com os momentos bons, e assim foi feito.
Esse meu velho, hein!!! kkkkkkkkkkkkkk
Até hoje não sei exatamente onde ele foi enterrado, mas, meu coração nunca deixou de ser a sua moradia.
Sinto a sua presença até hoje meu velho, e quando me lembro de ti, eu, simplesmente, tenho vontade de sorrir. Você até hoje me faz feliz, e olha que já se passaram mais de 30 anos. Gratidão eterna!
Pai Celestial obrigado pelo pai que me deste na terra.
Seguindo com confiança aquela passagem bíblica (Mt 7,7) que diz:
“Pedi, e vos será concedido; buscai, e encontrareis; batei, e a porta será aberta para vós. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, se lhe abrirá”.
Então, humildemente vos peço, concedei-me, depois da minha partida desta vida, poder reencontrar o meu velho e abraça-lo, poder tomar juntos uma dose de uísque e colocarmos os assuntos em dia. Pois, isso é o que sinto muita vontade de fazer quando o Senhor nos permitir.
Reinaldo Alves